terça-feira, 19 de março de 2024

Como era no princípio agora e sempre (Os que comandam a igreja precisam de orações)

 

Estamos diante de um chamado urgente, uma convocação que ecoa através dos séculos e reverbera nos corredores da história da igreja. É hora de voltarmos ao essencial da nossa missão, ao propósito primordial que nos foi confiado desde os primórdios da fé cristã.

Está na hora da igreja voltar a ser o que se espera dela: Falar de Deus, não apenas mencioná-Lo em discursos vazios, mas proclamá-Lo com fervor e paixão, como o centro de nossas vidas e da nossa existência. Está na hora de falar da alma, daquela parte imaterial que nos conecta ao divino, que anseia por transcendência e significado. Precisamos redescobrir a linguagem da alma, aquela que fala à essência do ser humano e desperta o desejo pelo encontro com o Sagrado, como diz e exorta o Cardeal Sarah.



Além disso, é essencial que retomemos o diálogo sobre o além, sobre aquilo que está para além dos limites da nossa compreensão terrena. Devemos nos lançar com coragem e humildade na exploração dos mistérios da fé, abrindo-nos para as profundezas do divino e contemplando o mistério da eternidade que nos aguarda.

Mas, sobretudo, é imprescindível que falemos da vida eterna. Não como uma promessa distante e abstrata, mas como uma realidade palpável e transformadora. A vida eterna é o horizonte que guia nossas escolhas e orienta nossas ações no presente. É o destino final para o qual todos estamos caminhando, e é nosso dever como igreja preparar o caminho para essa jornada.

A igreja existe para que haja santos. Não para construir impérios terrenos ou acumular riquezas materiais, mas para gerar uma comunidade de homens e mulheres que testemunham a presença de Deus em suas vidas. A santidade não é um privilégio exclusivo de uma elite espiritual, mas um chamado universal que ressoa em todos os corações sedentos de verdade e amor.

É preciso lembrar as palavras sábias do Concílio Vaticano II, que nos recordam que, embora os caminhos possam ser diversos, o destino é o mesmo: a santidade. Todos somos convocados a trilhar esse caminho de fé e justiça, guiados pela luz da Palavra de Deus e pelo exemplo dos santos que nos precederam.

Portanto, que possamos responder a este chamado com zelo e dedicação renovados. Que possamos nos empenhar na busca pela santidade, não como uma obrigação imposta de cima para baixo, mas como uma resposta livre e consciente ao amor de Deus que nos envolve e nos transforma. Que a igreja volte ao seu propósito primordial, e que, ao fazê-lo, ilumine o mundo com a beleza da santidade vivida em comunhão com o divino.


Nos tempos de hoje, em meio à agitação do mundo, os sacerdotes desempenham um papel fundamental na orientação espiritual das pessoas. Contudo, é essencial que voltem a focar suas mensagens na piedade, na oração, na santificação, na ascese e na mística, buscando levar os fiéis às virtudes da Fé, Esperança e Amor. Esses valores fundamentais do Evangelho são pilares que sustentam a jornada espiritual de cada indivíduo.

É crucial que os sacerdotes abordem a caridade com a verdade do Evangelho. Caridade verdadeira não é apenas assistencialismo superficial, mas sim um compromisso profundo com o bem-estar integral do próximo, nutrido pelo amor de Deus. A verdadeira caridade promove a dignidade humana e incentiva o crescimento e a promoção das pessoas, em todos os aspectos de suas vidas.

Neste momento, mais do que nunca, devemos elevar nossas preces pelos nossos sacerdotes, padres, bispos, cardeais e o Papa. Que eles sejam fortalecidos e configurados ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria. Que encontrem inspiração e orientação divina para guiar suas comunidades com sabedoria, amor e compaixão.

Que possam ser exemplos vivos da fé que pregam, levando as pessoas a um encontro genuíno com Deus e impulsionando uma transformação verdadeira em suas vidas. Que, através de suas palavras e ações, possam conduzir os fiéis pelo caminho da verdade, da esperança e do amor, sempre em consonância com os ensinamentos e o exemplo de Cristo e de sua Santa Mãe

Rezemos pelos nossos Sacerdotes:Parte superior do formulário



ORAÇÃO PELOS SACERDOTES

Deus Todo Poderoso e Eterno, olha com amor o rosto de seu Filho e por amor Dele, que é Sumo e Eterno Sacerdote, tem misericórdia dos teus sacerdotes

Lembrai-vos, compassivo Senhor, que eles são frágeis e fracos seres humanos.

Renovai neles o dom da vocação que, de modo admirável, se consolidou pela imposição das mãos dos teus Bispos. Conservai-os sempre perto de Vós, não permitindo que o inimigo os afaste, para que nunca se façam partícipes da mais mínima falta contra a dignidade de tão sublime vocação. Senhor Jesus, vos peço pelos seus fiéis e fervorosos sacerdotes assim como pelos sacerdotes infiéis e tíbios. Pelos sacerdotes que trabalham na sua própria terra e pelos que te servem longe, em lugares ou missões longínquas, por teus sacerdotes tentados, pelos que sentem a solidão, o tédio ou cansaço; pelos sacerdotes jovens e pelos que estão pra morrer; assim como pelos já falecidos. Mas especialmente te encomendo os sacerdotes que mais aprecio: O sacerdote que me batizou. O que me absolveu dos meus pecados; os sacerdotes de cujas eucaristias participei, e me deram teu corpo e sangue na Comunhão.

Oh Jesus!, conservai a todos pertinho do vosso Coração e os abençoai abundantemente, no tempo e na eternidade. AMÉM!.


segunda-feira, 18 de março de 2024

Busquemos sempre a luz da verdade

 

Nos tempos tumultuados em que vivemos, é inegável que testemunhamos uma estranha inversão de valores. O que no passado seria considerado absurdo ou moralmente inaceitável, agora parece ser aceito com uma indiferença alarmante. É como se as linhas entre o certo e o errado, o justo e o injusto, estivessem sendo apagadas, deixando espaço para uma confusão moral que ameaça corroer os alicerces da sociedade.

Aqueles que têm a coragem de chamar o mal pelo que é são frequentemente ridicularizados ou desacreditados. Em um mundo onde a verdade é muitas vezes distorcida em prol de agendas pessoais ou políticas, é fácil cair na armadilha de rotular o mal como bem e o bem como mal. Mas, como alertaram os sábios desde tempos imemoriais, "Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem mal", pois estão perdendo de vista os princípios fundamentais que sustentam uma sociedade justa e compassiva.


A confusão se intensifica quando as trevas são proclamadas como luz e a luz é obscurecida pelas sombras do engano e da desinformação. Em uma era dominada pela tecnologia e pela comunicação instantânea, é cada vez mais difícil discernir entre a verdade e a falsidade, entre a honestidade e a manipulação. Aqueles que se aproveitam dessa confusão para promover suas próprias agendas estão condenando não apenas a si mesmos, mas também aqueles que confiam em suas palavras distorcidas.

E o que dizer daqueles que transformam o amargo em doce e o doce em amargo? Em um mundo onde os valores são frequentemente distorcidos em nome do lucro ou do poder, é fácil ser seduzido pela promessa de prazeres momentâneos em detrimento do bem-estar a longo prazo. No entanto, essa busca implacável pelo prazer imediato muitas vezes leva à ruína pessoal e ao sofrimento dos outros.

Em última análise, é imperativo que resistamos a essa inversão de valores e nos apeguemos à verdade, à luz e ao bem. Devemos ter a coragem de enfrentar o mal onde quer que o encontremos, mesmo que isso signifique ir contra a corrente dominante. Pois, como nos lembra a sabedoria antiga, é somente ao permanecermos fiéis aos princípios que realmente prosperaremos como indivíduos e como sociedade.

Eu sou o caminho, a verdade e a vida, já deixou bem claro Nosso Senhor Jesus Cristo. Que a luz da verdade possa inspirar a nossa vida e nos apontar o caminho! Amém!

“Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem mal; dos que dizem que as trevas são luz e a luz trevas; dos que fazem do amargo doce e do doce amargo! (Isaías 5,20)"

segunda-feira, 11 de março de 2024

A conformidade da vida à Santíssima Vontade Divina

Na busca pela perfeição possível nesta terra o mais importante é fazer a vontade de Deus. Nesta jornada terrena, ou além dela, pouco importa o lugar que a providência nos destina. Os santos, no ápice da sua existência celeste, amam a Deus com um amor purificado. E em que consiste esse amor senão na total conformidade com a vontade divina?

Nosso Senhor Jesus Cristo, em Sua sabedoria incomensurável, nos ensinou a pedir pelo cumprimento da santíssima vontade, tanto na terra quanto nos Céus, como expressamos na oração do Pai Nosso. Aceitar, portanto, neste mundo, o que Deus determina, seja o último ou o primeiro lugar, é o caminho para a santificação.

Quando nos submetemos à vontade do Altíssimo, nenhum lugar, posição ou circunstância se torna desprezível aos olhos divinos. Seja no trabalho mais modesto ou na mais elevada direção de uma instituição, uma alma pode se santificar e acumular merecimentos para o reino celestial, desde que esteja em conformidade com a vontade de Deus.

A sábia Santa Teresa D'Ávila, em sua inspiração divina, nos legou o ensinamento de que aquele que for fiel nessa prática receberá do Céu maiores dons e avançará mais na sua jornada interior. Portanto, é preferível ser o mais humilde dos vermes neste mundo, desde que seja pela Vontade de Deus, do que se tornar um herói ou ídolo da humanidade seguindo os ditames da própria vontade.



Que possamos, então, em cada passo desta existência terrena, buscar incessantemente a conformidade com a vontade divina, pois nessa harmonia reside a verdadeira perfeição e o caminho para a eternidade.



terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

A todos que procedem retamente...

No Salmo 49, encontramos uma exortação à retidão e à confiança na salvação divina. Neste texto, podemos refletir sobre a importância de seguir um caminho reto e a promessa de que aqueles que assim procedem serão agraciados com a salvação proveniente de Deus.

A todos que procedem retamente, a promessa divina é clara e reconfortante. Em um mundo onde os desafios e tentações muitas vezes desviam as pessoas do caminho da virtude, aqueles que optam pela retidão são guiados por uma luz celestial. Suas ações são fundamentadas na verdade e na bondade, refletindo a pureza de seus corações.


Ao olhar para esses indivíduos íntegros, somos lembrados da promessa divina de salvação. Em meio às incertezas e adversidades da vida, Deus é a rocha inabalável sobre a qual podemos construir nossa confiança. Ele não apenas nos guia em nosso caminho, mas também nos oferece redenção e libertação de nossos fardos mais pesados.

A salvação que vem de Deus é um presente precioso reservado para aqueles que escolhem seguir seus mandamentos e praticar a justiça. Não é uma recompensa que se conquista com méritos terrenos, mas sim um testemunho do amor e da misericórdia divina. É uma dádiva que transcende as limitações do mundo físico e nos eleva a uma comunhão mais profunda com o Criador.

Portanto, que possamos nos inspirar na mensagem do Salmo 49 e buscar a retidão em todas as nossas ações. Que possamos confiar na promessa divina de salvação e encontrar conforto na certeza de que Deus está sempre ao nosso lado, guiando-nos através das tempestades e nos conduzindo à segurança de seu amor eterno.

Exemplos luminosos temos ao ler as biografias dos grandes santos da igreja católica, como Santo Inácio de Loyola, Santa Tereza D’Ávila, Santa Catarina de Sena, São Luiz de Monfort e tantos outros.

Ao contemplar a vida dos santos, somos envolvidos por um sentimento profundo de admiração diante das inúmeras manifestações divinas que permeiam suas trajetórias. Alguns podem argumentar que os santos são simplesmente seres humanos, e é verdade, são humanos. No entanto, é essencial reconhecer neles a presença da divindade que transborda de suas vidas.

Um santo não é apenas alguém que viveu uma vida correta ou moralmente exemplar. Um santo é aquele que, mesmo enfrentando o cotidiano deste mundo, mantém os pés firmes no chão, enquanto sua alma resplandece em total comunhão com Jesus Cristo. É um ser humano que, através de suas ações e devoção, alcançou uma harmonia única entre o terreno e o divino.

Na jornada de um santo, testemunhamos milagres cotidianos, não necessariamente no sentido sobrenatural, mas sim na capacidade de transformar vidas, de inspirar fé e de irradiar amor incondicional. Suas vidas são verdadeiros testemunhos da graça divina operando no mundo material.

Ao olharmos para um santo, não devemos nos deter apenas na superfície de sua humanidade, mas mergulhar nas profundezas de sua espiritualidade. É nessa fusão entre o terreno e o transcendental que encontramos a verdadeira essência de um santo, uma essência que nos desafia a buscar uma vida de maior conexão com o divino em meio às nossas realidades terrenas.

Portanto, ao contemplarmos a vida dos santos, somos convidados não apenas a admirar suas virtudes, mas também a buscar em nós mesmos a mesma chama divina que os impulsionou. Pois, em última análise, cada um de nós possui o potencial de transcender o ordinário e tornar-se um reflexo da divindade em nossas próprias vidas.

É bom lembrar que na Constituição dogmática Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II a igreja reafirma o chamado de que todos, sem exceção, somos chamados à santidade.

Pedimos a Deus a graça de entrar nos caminhos da santidade. Amém!

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Eu vivo esta paz inquieta

 

Em um dos pronunciamentos impactantes de Jesus, encontramos uma frase que inicialmente parece paradoxal e contraditória. Ele declara: "Não pensem que eu vim trazer paz à terra; eu não vim trazer a paz, e sim a espada." (Mateus 10, 34) Essa afirmação, longe de ser um chamado à violência, revela a verdadeira natureza de sua missão e a repercussão que seu ensinamento teria entre os seres humanos.



Jesus, ao proferir essas palavras, busca esclarecer que sua vinda não se trata de um convite à harmonia superficial, mas sim de uma convocação à verdade profunda. O anúncio da verdade, representado pela “espada”, inevitavelmente provoca divisão entre aqueles que a acolhem e aqueles que a rejeitam. Assim, cada indivíduo é desafiado a tomar uma posição diante da mensagem de Jesus.

Para os que escolhem segui-lo, a fidelidade a essa verdade exige uma firmeza inabalável no compromisso. Seguir Jesus implica permanecer dedicado a Ele até o final, independentemente dos desafios que possam surgir. Nem mesmo os laços familiares mais próximos ou as ameaças à própria vida devem desviar o seguidor do caminho estabelecido pelo Mestre.

É um compromisso que transcende as relações familiares e as pressões externas, pois a busca pela justiça do Reino, anunciada por Jesus, torna-se a bússola que guia os passos do discípulo. Nada pode deter o seguidor de testemunhar a verdade e agir em prol da justiça proclamada por Jesus, pois a espada que Ele trouxe não é física, mas simbólica, representando a necessidade de discernimento e decisão inquebrantável diante da verdade divina. Assim, aqueles que escolhem seguir Jesus são chamados a ser testemunhas corajosas da justiça e amor que Ele veio trazer ao mundo.

 

Viver em um mundo tão dividido, permeado por conflitos e desafios constantes, nos faz questionar como encontrar paz em meio a essa turbulência. A paz que muitos buscam não é simplesmente a ausência de guerras entre as nações, mas algo mais profundo. Estamos imersos em uma paz inquieta, uma paz que transcende as fronteiras geográficas e se manifesta no cotidiano de cada indivíduo.

Os líderes mundiais podem pregar a paz entre as nações, mas a verdadeira guerra ocorre nos corações e vidas das pessoas, onde diferentes formas de sofrimento se apresentam. É nesse cenário complexo que a paz verdadeira se torna uma busca constante. Uma paz que não é apenas a ausência de conflitos externos, mas a presença consoladora da graça divina.

Refletindo sobre as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, somos lembrados de que a paz interior não surge da ausência de dificuldades, mas da confiança em Deus. Ele nos orienta a não perturbar nossos corações, a ter fé em Deus e crer também n'Ele. Essa fé é uma âncora em meio às tempestades da vida, proporcionando serenidade mesmo diante das dificuldades e contradições que inevitavelmente enfrentamos.

É um fato que as adversidades fazem parte da existência humana, mas ao mantermos nosso pensamento voltado para as coisas do alto, esses desafios diários se tornam cada vez menos avassaladores. A verdadeira paz não está na fuga das dificuldades, mas na elevação do espírito, na compreensão de que há algo maior e mais duradouro do que as tribulações passageiras deste mundo.

Portanto, em um mundo dividido, onde a busca por paz parece uma jornada incessante, encontramos refúgio na fé, na graça divina que transcende as circunstâncias. A verdadeira paz não é apenas um estado de tranquilidade momentânea, mas uma vida constantemente ancorada na confiança em Deus, que nos guia e fortalece diariamente.

Paz Inquieta(Canção do Padre Zezinho):

Eu trago esta paz inquieta
Feita de trevas e de luz
Desde que eu sigo os caminhos
De um profeta chamado Jesus
Desde que eu sigo os caminhos
De um profeta chamado Jesus

Na treva eu me sinto inquieto
Na luz eu me sinto capaz
E pelos caminhos do mundo eu sigo inquieto
Mas vou em paz
E pelos caminhos do mundo eu sigo inquieto
Mas vou em paz

Inquieto pelo inocente
Pelo culpado também
Triste por ver tanta gente
Que não sabe o que a vida contém
Triste por ver tanta gente
Que não sabe o que a vida contém

Inquieto pela injustiça
Que eu vejo aumentar e doer
Inquieto por esta cobiça
Que não deixa o meu povo crescer
Inquieto por esta cobiça
Que não deixa o meu povo crescer

Em paz pelos homens justos
Que por saber e sonhar
Pagam com preço de sangue
A coragem de não se calar
Pagam com preço de sangue
A coragem de não se calar

Em paz pela esperança
Que faz esta vida valer
Em paz por quem nunca se cansa
De os caminhos da paz percorrer
Em paz por quem nunca se cansa
De os caminhos da paz percorrer

Em paz pela juventude
Pelos adultos também
E por aquelas virtudes
Que meu povo nem sabe que tem
E por aquelas virtudes
Que meu povo nem sabe que tem

Inquieto por tanta gente
Que não se inquieta jamais
E pelos caminhos do mundo eu sigo inquieto
Mas vou em paz
E pelos caminhos do mundo eu sigo inquieto
Mas vou em paz

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Eu quisera ter palavras para expressar tudo aquilo que se sente ao Te encontrar… (Padre Zezinho, scj)

Quantas vezes as palavras nos faltam para dizer o que se passa em nosso interior! Há experiências que não comportam em palavras. É bem provável que o grande apóstolo, o mais amado, São João Evangelista, tenha terminado o seu evangelho com escrito: “Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam escrever”.

 



Pode-se interpretar esse trecho como uma hipérbole, uma exagerada expressão, mas ao considerarmos as experiências humanas que transcendem a linguagem, torna-se plausível que o apóstolo tenha recorrido a esse artifício para encerrar sua narrativa por falta de palavras para expressar. Às vezes, o indizível, o inefável, ultrapassa os limites da comunicação verbal.

O Padre Zezinho tentou expressar em música aquilo que se passa quando há uma conversão de uma alma:

 

“Eu quisera ter palavras para expressar
Tudo aquilo que se sente ao se encontrar
Uma estrela a nos guiar, uma voz a nos falar
Uma pedra preciosa pela qual a gente deixa
Tudo aquilo que pensava ter
Uma pedra preciosa pela qual a gente deixa
Todo o bem que a gente tem

Eu quisera ter palavras pra dizer
O que existe bem la dentro do meu ser
Um desejo de saber, uma fome de entender
O porquê de tantos ais, tanta angústia e tanta paz
Nos caminhos a se percorrer
O porquê de tanta dor
Tanto amor e desamor
Nos caminhos do viver”

Nossas vivências mais profundas frequentemente escapam às palavras convencionais. É como se tentássemos traduzir em letras e sons algo que pertence a uma esfera além da linguagem. A complexidade das emoções, a grandiosidade das experiências espirituais, ou a intensidade dos momentos transformadores podem desafiar a capacidade da linguagem de capturar plenamente o que vivemos.

Assim, ao utilizar a hipérbole, São João Evangelista pode ter reconhecido a limitação das palavras diante de experiências indescritíveis. Essa escolha sugere que, mesmo para um apóstolo, a conexão com o divino e a plenitude das experiências vividas com Jesus transcendem a expressão verbal. Em face do inexprimível, o recurso à hipérbole torna-se uma tentativa humana de transmitir a magnitude do indizível.

Peçamos a Deus o dom de comunicar sempre a verdade com caridade, Amém!

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Busca desenfreada por honra, aplauso e adoração

 

São Paulo escrevendo aos romanos a mais de dois mil anos já alertava: “A criação foi sujeita ao que é vão e ilusório (Rm 8,20).

Na trajetória tumultuada da humanidade, uma sombra persistente se delineia: a sujeição à vaidade. Como se tocados por uma obsessão incontrolável, os indivíduos anseiam não apenas pelo domínio do mundo, mas também por subjugar cada alma que compartilha este planeta. A ambição desmedida dita regras, e a sede louca e insaciável por honra, aplauso e adoração se torna uma força de movimento inegável.

Em sua busca incessante pelo poder absoluto, a humanidade revela uma faceta obscura, disposta a transgredir limites éticos e morais. Se oferecessem o mundo como um tabuleiro de xadrez, muitos moveriam suas peças com voracidade, ignorando as consequências sobre aqueles que caem como peões em sua trajetória implacável.

A vontade de subjugar não se limita a terras e fronteiras; estende-se aos corações e mentes, criando uma teia de dominação que ameaça a essência mesma da convivência humana. A sede de aplausos e adulações transforma-se em um combustível para ações questionáveis, onde o indivíduo sacrifica princípios em troca de uma efêmera validação externa, onde por fora “bela viola, por dentro, pão bolorento”. Nosso Mestre e Senhor já os chamava de sepulcro caiado a dois mil anos.

A apropriação desenfreada de criaturas, sejam elas seres humanos, animais ou recursos naturais, ilustra a natureza insaciável desse anseio desenfreado. A humanidade, às vezes, parece esquecer que compartilha o mesmo lar com milhares de formas de vida, todas merecedoras de respeito e preservação.

A jornada rumo à transcendência desse impulso desenfreado é um desafio coletivo. Ao reconhecer a fragilidade dessa busca desenfreada por glória pessoal, a humanidade pode encontrar um caminho mais equilibrado, onde a compaixão e a colaboração substituam a tirania da vaidade. É na busca por uma honra pura, construída sobre a base do respeito mútuo, que a humanidade pode redescobrir sua verdadeira grandeza.

Peçamos a Deus, na intercessão de Nossa Senhora, mãe dos humildes, o Dom da Humildade, tão necessária aos tempos modernos. Amém!

Nossa Senhora, Rainha do Céu e da Terra

Maria é venerada como a rainha do céu e da terra por graça divina, enquanto Jesus Cristo ostenta tal título por natureza e conquista. Nessa comparação, podemos entender que, da mesma forma que o Reino de Jesus se estabelece no coração e no âmago do ser humano, conforme proclamado nas palavras "O reino de Deus está dentro de vós", o Reino da Santíssima Virgem encontra sua morada principal no interior da alma humana.


É no santuário da alma que Maria é exaltada em comunhão com seu Filho de maneira mais sublime do que em todas as criaturas visíveis. Assim como os santos a designaram, podemos chamá-la de "Rainha dos Corações". Sua glória resplandece de modo especial nas almas que a acolhem, tornando-se um reflexo brilhante da união maternal entre Maria e Jesus.

Ao reconhecer Maria como Rainha dos Corações, entendemos que sua realeza transcende a esfera terrena e se manifesta de maneira mais significativa no domínio interior e espiritual. É na entrega sincera da alma que ela exerce sua soberania, guiando e abençoando aqueles que a acolhem como Rainha e Mãe.

Assim, Maria não apenas ocupa um lugar especial na devoção católica, mas se torna uma guia compassiva e um farol luminoso nos corações daqueles que buscam aprofundar sua relação com o divino. Sua presença é uma fonte inesgotável de graças e bênçãos, manifestando-se de maneira única na interioridade de cada ser humano que reconhece sua Rainha dos Corações.

sábado, 3 de fevereiro de 2024

Alma devota, verdadeira ou falsa

A verdadeira devoção se revela na adversidade, quando a tempestade da vida se abate sobre nós. É fácil ser devoto fervoroso quando a bonança reina, quando a saúde é robusta e os recursos financeiros são abundantes. Contudo, é nos momentos de aflição que a autenticidade da devoção é posta à prova. Muitos, com almas delicadas, prestam homenagem a Deus apenas quando tudo está em paz. No entanto, diante do sofrimento e da adversidade, essas almas vacilam, abandonam a fé, queixam-se da providência e, por vezes, em um ato de desespero, profanam a bondade divina com blasfêmias.

Assim, é, entre os altos e baixos, que se revela a verdadeira natureza da devoção. É nos momentos de escuridão que a luz da fé brilha mais intensamente, e é na adversidade que a verdadeira devoção se diferencia da falsa. Que possamos, ao enfrentar as contradições da vida, fortalecer nossa devoção, compreendendo que, mesmo nos desafios mais árduos, os desígnios de Deus nos conduzem a uma conquista do céu mais meritória.

Na busca pela compreensão dos desígnios de Deus, percebemos que algumas desgraças, muitas vezes, são instrumentos da providência divina, enquanto sucessos aparentes podem se revelar como castigos disfarçados. Nesse tabuleiro da existência, o descanso completo parece um sonho inatingível, uma vez que estamos imersos em uma mistura de experiências, algumas das quais desafiadoras e outras aparentemente gratificantes.

É na adversidade que se forja o verdadeiro caráter da devoção. A autenticidade da fé não é plenamente revelada nos momentos de bonança, quando a saúde floresce e os recursos financeiros fluem abundantemente. A devoção genuína se destaca quando as tempestades da vida desabam sobre nós, quando a saúde vacila e os recursos se escasseiam. Nesses momentos cruciais, é que se revela se a devoção é sólida e sincera, ou se é apenas uma fachada frágil que desmorona diante das dificuldades.

Muitas almas, delicadas em sua devoção, encontram-se firmes apenas quando a maré da vida está a seu favor. No entanto, no sofrimento e na adversidade, revelam-se as verdadeiras faces de sua fé. Algumas abandonam Deus, questionam a providência e proferem blasfêmias contra a bondade divina quando confrontadas com as agruras da existência. É nos momentos sombrios que se distingue a devoção verdadeira daquela que é superficial, meramente condicionada pelo bem-estar material.

Assim, diante das incertezas e desafios da vida, somos desafiados a adorar os desígnios de Deus, compreendendo que, mesmo nos momentos mais difíceis, a jornada terrena visa tornar nossa conquista do Céu mais meritória. A verdadeira devoção é aquela que persiste e se fortalece na tempestade, pois é no enfrentamento das adversidades que nossa ligação com o divino é verdadeiramente testada e aprofundada.

Maria Santíssima, a medianeira de todas as graças, interceda para que tenhamos cada vez mais uma devoção autêntica, Amém!

A Vós, ó Deus louvamos! (31 de Dez de 2023)

 

Mais um ano que se passa, mais um capítulo escrito na grande jornada da vida. Diante do calendário que se renova, reflito sobre os passos dados, os sorrisos compartilhados e as lágrimas derramadas. Foi um período de desafios e vitórias, de dores e alegrias, um ciclo que se encerra para dar lugar a um novo começo.



Ao olhar para trás, questiono a natureza da minha jornada. Fui feliz ou desgraçado? As respostas, talvez, se escondam nas entrelinhas do destino, nos desígnios divinos que regem nossa existência. Somente Tu, meu Deus, conheces a verdade que se esconde por trás de tantas experiências, as horas amargas e os golpes que dilaceraram meu coração ao longo destes 365 dias.

Agradeço, Senhor, por todos os benefícios que Tua misericórdia concedeu. Cada desafio, cada lágrima, aceito como uma oportunidade de expiação, unindo minhas dores e aflições ao mérito das Vossas Santas Chagas. Que meu sofrimento, em comunhão com a Cruz, possa purificar-me de meus inúmeros pecados.

Deus dos humildes, pobres, infelizes e dos que choram, olhai para o meu coração. Um coração tantas vezes seduzido pelas belezas efêmeras deste mundo, que busca uma felicidade e paz verdadeiras, mas que muitas vezes se perde na ilusão das criaturas. Dai-me, Senhor, um coração totalmente Vosso, livre das armadilhas das tentações mundanas.

Ó Deus, solução para todos os problemas, meu ideal supremo! Que Vossa presença console as solidões mais devastadas, console as dores mais profundas e aqueça os corações mais frios. Em Vós, Senhor, encontro compreensão para todas as aspirações, proteção para todas as liberdades, respeito para todos os sentimentos e restauração para todas as ruínas.

Acalmai as paixões, fortificai as vontades, sustentai os fracos, dilatai os corações. Dai-nos, Senhor, a paz que só pode ser encontrada em Vossa misericórdia e verdade. Deus, minha fonte de misericórdia e verdade, sois meu Tudo. Que este novo ano seja guiado pela Vossa luz e repleto da Vossa graça. Amém.

A Paciência tudo alcança (Santa Tereza D’Ávila)

 

São Paulo exortava os romanos com a sabedoria que transcende o tempo: "…Sedes pacientes na tribulação…" Essa mensagem atemporal ressoa através das eras, ecoando a importância de cultivar a virtude da paciência, uma qualidade que transcende as circunstâncias adversas.



Dentro desse mesmo contexto, Santa Tereza adicionava seu sábio conselho: "…A paciência tudo alcança…" Essas palavras, pronunciadas por uma figura tão venerada, reforçam a ideia de que a paciência não é apenas uma qualidade desejável, mas uma força capaz de superar desafios e alcançar realizações notáveis.

A paciência, portanto, emerge como uma virtude heroica. As escrituras sagradas sustentam que é melhor ser um homem paciente do que um guerreiro conquistador de cidades, e que a paciência supera a força bruta. Os teólogos, ao classificarem as virtudes, geralmente as agrupam nas chamadas virtudes cardeais.

Embora a paciência devesse, à primeira vista, ser parte das virtudes da Temperança, ela foi categorizada como parte da Fortaleza. Isso ressalta o fato de que o verdadeiro forte é aquele que possui paciência. Adolphe Tanquerey a classifica como uma das virtudes conexas com a virtude da Fortaleza. 

Segundo o grande teólogo “A paciência é uma virtude cristã que nos faz suportar com serenidade de alma, por amor a Deus e em união com Jesus Cristo, sofrimentos físicos e morais. Ainda segundo Tanquerey, todos sofrem o suficiente para ser santos, desde que saibam suportar corajosamente e por motivos sobrenaturais.

A paciência, muitas vezes, é uma virtude discreta, silenciosa e desprovida de brilho superficial. Enquanto algumas virtudes são visíveis, admiradas e recompensadas por todos, a paciência é como a violeta, que passa despercebida até que seu suave e divino perfume seja notado. 

As grandes virtudes, aquelas que são perceptíveis aos olhos humanos, podem ser mais acessíveis e atraentes. No entanto, as virtudes ocultas, como a paciência, são mais desafiadoras e pesadas.

Exercitar a paciência envolve suportar o sofrimento sem que ninguém o perceba, manter um sorriso em meio à adversidade e lançar um olhar de doçura em direção aos inimigos ou àqueles que nos maltratam e perseguem. Buscar a perfeição em cada situação, muitas vezes, demanda sacrifício. 
A verdadeira grandeza de alma revela-se na capacidade de resistir e perseverar nessa luta cotidiana.

Assim, a paciência é verdadeiramente a virtude dos heróis. É um atributo que não apenas suaviza as asperezas da vida, mas também eleva aqueles que a cultivam a patamares de grandeza moral e espiritual. 

Enquanto as outras virtudes capturam a atenção, a paciência é discreta e persistente, que se revela como a força silenciosa por trás das verdadeiras conquistas humanas.

Na intercessão de Nossa Senhora, peçamos a Deus a virtude da paciência!

A Caridade verdadeira não é um ato revolucionário

Hoje, observo com apreensão a postura de alguns leigos católicos, e até mesmo de alguns sacerdotes ordenados, e, pasmem até bispos católicos, que parecem querer transformar a igreja em um palco para exibição do que pode chamar de "misericordismo". É preocupante perceber tentativas de utilizar as nobres ações de misericórdia como instrumento de promoção pessoal ou política. Este fenômeno representa um perigo latente para o objetivo primordial da santa igreja no mundo: conduzir as almas à salvação, conforme ensinado por Nosso Senhor Jesus Cristo.

A verdadeira essência da igreja reside na propagação do amor, compaixão e misericórdia, refletindo os ensinamentos do Divino Mestre. No entanto, quando tais princípios são deturpados para servir a interesses pessoais ou agendas políticas, o propósito sagrado da igreja fica comprometido.



O uso indevido das ações de misericórdia, seja como meio de autopromoção ou como ferramenta política, desvirtua a mensagem central da igreja. Em vez de focar na condução das almas para a salvação, esse comportamento desloca a atenção para objetivos menos nobres, obscurecendo a verdadeira missão espiritual.

É crucial que todos os membros da igreja, leigos e clérigos, estejam vigilantes e comprometidos com a autenticidade do serviço misericordioso. A busca pela salvação das almas deve transcender qualquer motivação egoísta, mantendo-se alinhada com os princípios fundamentais do cristianismo.

Assim, insta-se a comunidade católica a permanecer fiel à mensagem original de amor e misericórdia, preservando a integridade da igreja como instrumento divino para a redenção espiritual e salvação das almas. Que cada ação de misericórdia seja uma expressão genuína do amor cristão, contribuindo para o propósito sublime de guiar as almas pelo caminho da salvação, em consonância com os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Parte superior do formulário


A caridade é uma característica particular ao catolicismo, historicamente enraizada e difundida pela igreja ao longo dos séculos. Esse valor transcende as eras, tornando-se uma rotina na vida social e ganhando espaço como um mandamento divino.

A essência da caridade católica, através das obras de misericórdia, vai além do simples assistencialismo barato. Não se trata de um ato movido por interesses políticos, revolucionários ou trocas de favores, mas sim de uma expressão genuína do amor ao próximo. 

Enquanto o assistencialismo político busca votos, o artístico procura promoção e o ateu age por sentimentalismo, a caridade católica emerge como um compromisso divino, uma condição para a salvação eterna.

No centro dessa prática está a visão do católico sobre o pobre: não apenas como um necessitado de recursos materiais, mas como a representação de Nosso Senhor Jesus Cristo na Terra. O verdadeiro católico busca, além de prover alimento, restaurar a dignidade do necessitado como filho de Deus.

O católico vê no pobre a pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo e busca dar a ele, mais do que pão, a dignidade de um filho de Deus. Basta ver o trabalho de São Vicente de Paulo, de Santa Tereza de Calcutá e Santa Dulce dos Pobres, que nunca fizeram da caridade um ato político revolucionário, mas sim uma escada de salvação não só para eles, mas para tantos outros, como o Beato Frederico Ozanan, que inspirando em São Vicente de Paulo, promoveu grande diferença no mundo.

A caridade católica não se limita a gestos isolados, mas influencia vidas de maneira profunda e transformadora. Exemplos como do Beato Frederico Ozanan, demonstram que a verdadeira caridade não é um ato político revolucionário, mas sim um compromisso de amor e serviço ao próximo. Assim, a caridade católica perdura como uma força generosa que é capaz de transcender tempos e ideologias, moldando corações e proporcionando esperança a todos que a ela recorrem.

Rezemos para que tenhamos a graça da verdadeira caridade, desapegada de retornos materiais. Amém!